[Criado em 21/05/2012]
Desta vez, tentarei esclarecer alguns pontos em relação a greve. Já deixo claro que é a minha opinião pessoal e não representa a opinião de outros servidores.
Quais as reivindicações da greve?
Em todas as greves a principal reivindicação está ligada a remuneração, seja na forma do salário, do auxílio transporte, da progressão, das regras de aposentadoria,...
Sempre se falam da falta de estrutura dos campi, mas para mim isso está ligado mais a administração / gestão do que a disponibilidade de recursos federais. Minha opinião sobre isso está neste link e também pode ser observado na diferença de estrutura dos diversos campi (só olhar as notícias de inauguração de prédios e projetos na página do IFMG). Podem verificar que quase todas as greves terminam sem resultados ou após negociação salariais.
Valorização da carreira de professor EBTT:
Sempre falam da que a carreira de professor do ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT) está desvalorizada, isso pode ser olhado de duas formas diferentes.
Se compararmos com os salários dos outros servidores federais, o professor EBTT (e o do magistério superior) possui o menor salário entre as carreiras de nível superior. O salário de um professor dedicação exclusiva (não pode exercer outras atividades remuneradas) com graduação, aperfeiçoamento ou especialização e menor do que dos outros servidores federais de nível superior (sem ser dedicação exclusiva) e até mesmo inferior ao de alguns servidores de nível médio.
Mas se considerarmos a evolução dos salários desde 2007 (ano que ingressei no CEFET-OP -> IFMG) ou desde 2008 (ano de mudança na carreira), veremos uma evolução equivalente ao da inflação (IPCA - IBGE) no mesmo período para algumas titulações.
Nesta primeira tabela, está a evolução do salário dos professores EBTT que ingressaram antes da mudança da carreira (ingresso antes de julho 2008):
* Desconsiderando as progressões por tempo de serviço.
Se considerarmos que a inflação neste mesmo período foi de 29,07%, pelos menos para os que ingressaram antes de 2008 e tenham pelo menos o título de especialista o aumento de salário no período foi real, ou seja, acima da inflação média do período.
Na segunda tabela, está o salário dos professores que ingressaram após julho de 2008 e, por isso, não foram beneficiados por uma progressão por titulação (para os docentes que tinham especialização, mestrado ou doutorado) que aconteceu na mudança da carreira.
* Desconsiderando as progressões por tempo de serviço.
Se considerarmos a inflação no período igual a 21,70%, realmente o salário foi defasado nestes últimos anos, mas muitos já imaginavam que não teria aumento em 2010->2011, já que o aumento do período anterior não tinha sido baixo.
Mas, o salário do professor EBTT é baixo?
Se compararmos com com o dos outros servidores federais, sim é baixo.
Se compararmos com profissionais liberais, vai depender do profissional, alguns terão salário muito superior outros equivalentes ou inferior.
Se compararmos com o dos professores da rede pública (estadual ou municipal), o salário é muito superior e a carga horária dentro de sala de aula bem inferior.
Se compararmos com a iniciativa privada, vai depender da área de trabalho. Se comparar com o de outros professores, a iniciativa privada tem um salário melhor, mais a carga de trabalho e a cobrança são maiores, a aposentadoria é inferior, entre outros fatores. Se compararmos com outros profissionais da iniciativa privada, mesmo com o mercado aquecido o salário não é tão superior (nos casos de ser superior), existe relatos de professores que sairam da iniciativa privada (tinha mestrado e trabalhavam como engenheiro em uma multinacional) e ao ingressar no IF o aumento de salário foi de cerca de 20%.
Diferenças na carreira:
Este ponto é uma dos que gera maior insatisfação de alguns docentes, a diferença salario (devido a progressão) entre servidores mais antigos e mais novos. Esta diferença pode ser observada se comparar as linhas de 2012 nas duas tabelas anteriores. Acredito que se todos tivessem direito a esta progressão, o movimento de greve do ano passado teria sido fraco e este ano o risco de nova paralisação seria próximo de zero.
Auxílio Transporte:
Este é outro motivo de queixa, mas que afeta somente alguns campi dos Institutos Federais. No IFMG, o campus Congonhas é um dos mais afetados devido a grande parte dos servidores morarem em outras cidades e não terem o interesse de mudar para Congonhas ou alguma outra cidade da região. Mas é do meu conhecimento de que aconteceram alguns abusos, como servidor que possui mais de um endereço solicitar o auxílio para o mais longe, servidor solicitar um auxílio para um rota maior do que a que realmente faz, entre outros casos.
O que costumo falar em relação a isso (e sei que muitos não concordam comigo) é que o problema não é a atual suspensão do auxílio transporte e sim ele ser pago da maneira que era feita. Em outros campi (como o de Bambuí) a um bom tempo é exigido a apresentação de passagem intermunicipal para o pagamento do auxílio transporte, coisa que só agora está sendo feita pela reitoria e causou este transtorno.
Qual a minha opinião sobre esta greve?
Este ano, não irei apoiar e pretendo não aderir a greve. A greve do ano passado foi desgastante, sofreremos com ela até o final do ano com a reposição, tanto na diminuição das férias como nos sábados letivos. Ficou clara a falta de organização do SINASEFE (deixando claro que é do Sindicado e não do comando local de greve de Congonhas) que não se preparou para o aumento da estrutura dos IFs, a falta de participação dos servidores, a falta de resultados / exposição na mídia e a falta de sintonia com outros sindicatos para não ficarem sozinhos em uma greve.
Se não tivesse tido a greve de 2011 (que considero ter sido feita no momento errado), até poderia apoiar a greve deste ano, afinal acredito que alguns reivindicações são justas, como no mínimo a reposição da inflação no salário dos servidores e maior valorização da carreira de professor. A forma mais clara de demonstrar a desvalorização da carreira de professor é entrar em uma sala de ensino médio e perguntar quantas pessoas pretendem seguir a carreira de magistério. O que há muito tempo era o sonho de alguns, hoje não é valorizado pela maioria.
Mas duas greve em seguida é complicado... Melhor deixar a responsabilidade para outras instituições desta vez.
Atualização do aumento acumulado (acordo Governo x PROIFES) [adicionado em 24/08/2012]
Nesta tabela atualizada está o aumento de salário dos professores EBTT, iniciando com o último salário antes da alteração da carreira. Calculando a partira da tabela proposta, o menor aumento de 2007 até 2015 será de 69,7%, corresponde a aproximadamente duas vezes a inflação no mesmo período.
* Desconsiderando as progressões por tempo de serviço.
** Considerando a progressão por titulação